domingo, 15 de junho de 2008

John Hersey e a arte de contar boas histórias


Como o dry martini e a voz de Frank Sinatra, o jornalismo literário é uma das grandes instituições americanas que fizeram o século XX. Ele tem tanto prestígio nas estantes americanas que chegou a criar uma categoria própria, também chamada literatura de não-ficção, ensaio ou, como fizeram seus barulhentos autores nos anos 60, "novo jornalismo".

Embora a imprensa tenha sido sempre uma companheira de viagem da literatura, essa aproximação começou a ter regras e repertórios autônomos com o final da Segunda Guerra Mundial.

Considerado um terceiro gênero ou um gênero híbrido, o jornalismo literário passou a combinar o exercício intensivo de práticas jornalísticas de entrevistas e apuração de fatos com técnicas e estruturas das narrativas de ficção.

Um dos procedimentos mais importantes para os jornalistas literários é a "imersão no objeto ou personagem", o processo de mergulhar profundamente no tema sobre o qual se vai escrever.

O jornalismo literário ganhou um amplo público de leitores por meio de
publicações como The New Yorker (até hoje o seu principal templo), Esquire,
The New Republic e Rolling Stone, entre outras, e pelo texto de autores como
Norman Mailer, Truman Capote, Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese,
Joseph Mitchell, Lilian Ross e E. B. White, para citar apenas alguns nomes.

Hiroshima, de John Hersey, é considerado um dos marcos iniciais do jornalismo literário. Com a sua publicação, tirando um atraso de mais de cinco décadas, a Companhia das Letras, com apoio cultural do site de notícias Último Segundo, inicia uma série que traz ao leitor brasileiro outros clássicos do gênero, entre eles A sangue frio, de Truman Capote; O segredo de Joe Gould, de Joseph Mitchell; Música para camaleões, de Truman Capote; e Olhos na multidão, de Gay Talese.

O jornalismo literário retoma a idéia de que a "arte de contar boas histórias" é parte essencial do jornalismo. No momento em que a imprensa, por força das mudanças acentuadas da vida contemporânea, encontra-se em fase de procura de novos caminhos, uma volta às grandes reportagens do jornalismo literário poderá ser útil para se desenhar alguns novos modelos, principalmente para aqueles que acreditam que o futuro dos jornais e das revistas está na diferenciação pela qualidade (não só da informação e da análise, mas também do texto).

Quando o século XX estava para terminar e o mundo se dedicava a balanços do que ocorreu de mais importante naqueles cem anos, uma unanimidade ocupou o topo da lista de melhores reportagens: Hiroshima. Produzida um ano depois do lançamento da primeira bomba atômica, a reportagem conta em 31.347 palavras o que aconteceu com seis pessoas que sobreviveram à explosão que matou 100 mil, feriu seriamente o corpo de mais 100 mil e machucou a alma da
humanidade.

Nenhuma outra reportagem na história do jornalismo teve a repercussão de Hiroshima. Ao comentar sua publicação, The New York Times afirmou: "Quando esse artigo de revista aparecer em livro, os críticos dirão que ele é um clássico. Mas ele é muito mais do que isso".

Aos 32 anos, em 1946 John Hersey já era um repórter internacional consagrado quando os editores da The New Yorker o deslocaram da China ao Japão para produzir a reportagem que marcaria a passagem do primeiro aniversário da bomba.

Ele ficou no país vinte dias e levou mais seis semanas para escrever o texto. Ao narrar os efeitos da bomba no cotidiano de cidadãos comuns de Hiroshima, Hersey trouxe o impacto da explosão para o dia-a-dia do americano, provocando uma reflexão da América sobre a sua própria conduta de guerra.

O impacto do texto, simples e isento de emocionalismo, foi tanto que Harold Ross, fundador, e William Shawn, editor, decidiram, pela única vez na história, dedicar um número inteiro da The New Yorker para a reportagem de John Hersey.

Fonte: Jornal Último Segundo - Especial Hiroshima

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Os bons tempos da grande reportagem


O jornalista Paulo Francis comentou certa vez, durante uma entrevista, que o jornalismo brasileiro era feito de altíssimos e baixíssimos. E um desses apogeus foi certamente a criação da revista Realidade, em 1966.

Por uma década (a experiência se encerrou em 1976), o leitor pôde usufruir o melhor jornalismo que se fazia aqui na época. Realidade explorou à exaustão o que se convencionou chamar de grande reportagem, gênero que teve em repórteres como Joel Silveira um de seus precursores no Brasil.

Realidade veio a lume numa década de acontecimentos extremos. Lá fora ocorriam conflitos históricos como a Guerra do Vietnã, a rebeldia dos estudantes em Paris, a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, a revolução do flower power etc. No Brasil, tinham início os Anos de Chumbo, com o cerceamento das liberdades civis e todas as conseqüências que adviriam para o país nas décadas seguintes. Nesse contexto explosivo a revista surgiu, vicejou e revolucionou.
Agregando um time de jornalistas de primeira linha, Realidade trouxe ao leitor um Brasil pouco discutido e conhecido. Abordou temas-tabu, a exemplo da reportagem "Sou padre e quero casar", veiculada na edição de setembro de 1966, e colaborou para expor o racismo brasileiro, como na reportagem "Existe preconceito de cor no Brasil", na edição de outubro de 1967. A revista abriu espaço para personagens controvertidos e contestatórios da rígida sociedade de então, como Leila Diniz. Na edição de abril de 1971, a eterna Leila enchia a capa de Realidade com um sorriso matreiro, em foto do não menos lendário David Drew Zingg, colaborador da revista.
Imitada por nascentes publicações, como a Veja, Realidade acabou perdendo a força original e fechou as portas, após ter publicado 120 edições (sempre mensais) e com elas ter abocanhado oito prêmios Esso. Os 17 jornalistas que fizeram a história da revista, tendo à frente nomes como Sérgio de Souza (atual editor da Caros Amigos), Paulo Patarra, Narciso Kalili, Woile Guimarães, Alessandro Porro, Walter Firmo, partiram para outras experiências. Enquanto circulou, Realidade contou com colaboradores como Nelson Rodrigues, Carlos Drummond de Andrade, Sérgio Augusto ou Paulo Francis.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Realidade na íntegra


Noite de sexta-feira, cansaço pegando, a garganta começa a doer... Estou cansada. Feliz por uns motivos, angustiada por alguns tantos, ansiosa por outros. A vontade de escrever é grande. É latente. É modo de sobrevivência. É o que me fez deitar tão tarde, ontem à noite. E dormi pouco. O que só colaborou para que agora eu esteja tão exausta.

Mas dei sorte de encontrar o que eu queria. Uma matéria da Revista Realidade na íntegra. Com fotos! Mazaahh! E ainda descobri um baita grupo de cabeças pensantes, produtores de um site admirável. Vale a pena conferir. Aí vai:

"Em julho de 1968 gloriosa revolução de 1964 se consolidava rumo a efetivação dos direitos inalienáveis de seus generais. Faltava pouco para Costa e Silva baixar o pau de vez e instaurar o AI-5. Nas bancas, chegava a edição número 28 da Revista Realidade, ao custo de NCr$ 1,50 (cruzados novos), estampando uma foto de Luís Travassos na capa, presidente da União Nacional dos Estudantes e pivô de uma disputa política ferrenha dentro da entidade contra outro militante estudantil, José Dirceu. Trazia ainda, entre outras reportagens, o relato do repórter José Hamilton Ribeiro, convalescendo em uma maca de hospital no Vietnam, depois de ter uma de suas pernas arrancada por uma mina enquanto acompanhava um esquadrão estadounidense durante a cobertura da guerra internacional que movimentava aqueles anos. A Revista Realidade chegava ao ápice de seu jornalismo que no próximo ano começaria a declinar, perdendo espaço dentro da Editora Abril para a, na época recém-criada, Revista Veja.

Nessa mesma edição, sob o tema "Polícia", o escritor João Antônio publicava seu segundo texto na revista, depois de passagem, em dois anos de carreira, pelo Jornal do Brasil, pela revista feminina Cláudia e pelo jornal Última Hora. João Antônio não negava querer viver só da literatura, mas na falta, seguia desenvolvendo um jornalismo intimamente ligado a sua ficção, apesar da forte motivação de subsistência. Na reportagem "Quem é o dedo duro?", seguia um dos temas caros a ele, a margilinalidade, sempre com um faro para os "tipos" brasileiros e seu linguajar, costurando tudo com descrições sucintas e uma narrativa precisa.

A reportagem, além de sua temática impressionante (o trabalho informal de um delator trabalhando para a polícia carioca no meio da malandragem), inquieta pela forma onisciente de narrar de João Antônio que não apresenta nem as circuntância em que encontrou o personagem principal, Zé Peteleco. As fotos também esquentam as orelhas. Cheiram a um ensaio ilustrativo, mas aquele dedo do fotógrafo na última imagem só se justificaria em um publicação como Realidade pela pressa ou coisa do tipo.

O grupo TR.E.M.A. disponibiliza fotos e texto desta reportagem na íntegra. Uma faceta intrigante do mundo anônimo que se esgueira diante de nossos olhos narrada por um discreto cagüeta jornalístico."

Para acessar a reportagem na íntegra, com direito a fotos das páginas, clique aqui. Ou na foto, ali em cima.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Um pouquinho de Nomenclatura


Essas informações foram elaboradas pelo professor Edvaldo Pereira Lima (jornalista, autor de diversos livros, pesquisador de Jornalismo Literário e orientador de Teses e Dissertações nessa área. Leciona na USP, onde também fez Mestrado e Doutorado).

Jornalismo Literário

Modalidade de prática da reportagem de profundidade e do ensaio jornalístico utilizando recursos de observação e redação originários da (ou inspirados pela) literatura.Traços básicos: imersão do repórter na realidade, voz autoral, estilo, precisão de dados e informações, uso de símbolos (inclusive metáforas), digressão e humanização. Modalidade conhecida também como Jornalismo Narrativo.

Jornalismo Literário Avançado

Proposta conceitual e metodológica de prática proativa do Jornalismo Literário, delineada por Edvaldo Pereira Lima, incorporando conhecimentos de vanguarda provenientes de vários campos, como a psicologia humanista, a física quântica, a Teoria Gaia, a Teoria Geral de Sistemas. Instrumentos: histórias de vida organizadas em torno da Jornada do Herói e o método Escrita Total.

Literatura da Realidade

Sinônimo de Jornalismo Literário, Literatura de Não-Ficção, Literatura Criativa de Não Ficção. Aplica-se à prática da narrativa sobre temas reais, empregando reportagem - o ato de relatar ocorrências sociais - sob um conceito espaço-temporal e de método mais amplo do que nos periódicos. Praticada por jornalistas, escritores, historiadores e cientistas sociais.

Livro-reportagem

Veículo jornalístico impresso não-periódico contendo matéria produzida em formato de reportagem, grande-reportagem ou ensaio. Caracteriza-se pela autoria e pela liberdade de pauta, captação, texto e edição com que os autores podem trabalhar. Entre os tipos de livros-reportagem mais comuns estão a reportagem biográfica, o livro-reportagem-denúncia e o livro-reportagem-história.

Narrativas de Transformação

Proposta de utilização proativa do Jornalismo Literário, do Jornalismo Literário Avançado e da Literatura da Realidade em processos narrativos visando contribuir para a transformação da sociedade através da ampliação da consciência das pessoas. Conceitos-chave: a co-criação da realidade, a Teoria dos Campos Morfogenéticos e o pensamento produtivo complexo.

Ensaio Pessoal

Gênero emergente na Literatura da Realidade norte-americana. Mescla narrativa e reflexão dissertativa de tom pessoal, não acadêmico. O autor pode ser também personagem. Está envolvido de algum modo no acontecimento que dá origem ao texto e/ou assume posição clara nas reflexões associadas. O assunto abordado e o tema subjacente têm significado pessoal para o autor. Tanto a voz autoral quanto a imersão constituem qualidades desejáveis. Exemplo brasileiro: “Ayrton Senna – Guerreiro de Aquário” (Editora Brasiliense), de Edvaldo Pereira Lima.

Novo Jornalismo

Fase histórica e efervescente de renovação do JL nas décadas de 1960 e 1970 nos Estados Unidos, caracterizada pela introdução de novas técnicas narrativas (fluxo de consciência e ponto de vista autobiográfico), grande exposição pública e popularidade, reivindicação de qualidade equivalente à literatura. Abundantemente praticada em revistas de reportagem especializadas em JL, publicações alternativas, livros-reportagem e até mesmo em veículos da grande imprensa. Registra a ascensão para a fama de grandes mestres da narrativa do real, como Gay Talese e Tom Wolfe, assim como o salto para a produção de não-ficção de nomes consagrados da literatura, como Norman Mailer e Truman Capote.

Jornalismo Gonzo

Vertente peculiar do Novo Jornalismo, criada e popularizada por Hunter S. Thompson através de sua produção para a revista "Rolling Stone" e livros-reportagem. Consiste no envolvimento altamente pessoal e irreverente do repórter nos temas sobre os quais escreve, traduzido em forma narrativa excêntrica. Busca um modo de expressar a realidade muito apoiado na habilidade descritiva do autor. Praticada com destaque no Brasil atual por Arthur Veríssimo, na revista "Trip".

Histórias de Vida

Em jornalismo e Literatura da Realidade, este é um recurso de representação da realidade centrado em vidas de pessoas individuais ou grupos sociais. Surge como trabalho autobiográfico, de suporte de pesquisa ou de principal veio narrativo. Sob guarda-chuva conceitual amplo, num extremo abrange biografias e noutro, perfis. Em ciências sociais, Histórias de Vida é método de pesquisa.

Escrita Total

Método de produção de textos criativos, criado por Edvaldo Pereira Lima, tendo como parâmetro básico a Teoria dos Hemisférios Cerebrais, cuja comprovação garantiu o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia de 1981 ao neurologista Roger Sperry. Utilizado como ferramenta de sensibilização, pauta, observação e texto em Jornalismo Literário Avançado.

Jornada do Herói

Estrutura narrativa organizada numa combinação de estudos mitológicos de Joseph Campbell e da psicologia de Carl Gustav Jung, por Christopher Vogler, consultor de roteiros de cinema nos Estados Unidos. Utilizada por Spielberg e George Lucas. Adaptada para narrativas do real por Edvaldo Pereira Lima. Testada no ensino de jornalismo por Monica Martinez Luduvig em tese de doutorado na ECA/USP.

Fonte: Academia Brasileira de Jornalismo Literário

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Dica de Leitura

Obra: Leituras da Revista Realidade / Autora: Letícia Nunes de Moraes

Sobre o livro: Criada em abril de 1966, a revista Realidade marcou época no jornalismo brasileiro. Inspirada no conceito norte-americano de new journalism e com reportagens ousadas em sua forma e conteúdo, obteve sucesso imediato, mesmo em um país sem grande tradição de leitura como o Brasil. Enfrentou tabus, cobriu guerras e abordou questões sociais até então pouco discutidas por outros veículos de mídia e pela própria sociedade. Ao mesmo tempo impulsionada e influenciada pelas manifestações políticas e de contracultura do fim da década de 60, a revista também sofreu com a repressão da ditadura militar que na época se consolidava no Brasil.

Em Leituras da revista Realidade, Letícia Nunes de Moraes se debruça sobre o relacionamento da publicação com os leitores, a forma como estes reagiam às matérias veiculadas - em sua maioria de grande impacto, e não raro, escandalizando certos setores da sociedade. A participação do leitor é evidenciada pelas mais de 700 cartas analisadas pela autora, todas elas datadas da primeira (e mais importante) fase da revista, que vai de seu surgimento em abril de 1966 até a instituição do AI-5 pela ditadura militar em dezembro de 1968.

Haveria espaço hoje para periódicos nos moldes da Realidade? Quais são os rumos do jornalismo hoje tal como ele se encontra? Estas e outras são apenas algumas das diversas reflexões que a obra desperta no leitor, além de ajudar entender como e o quê tinha essa revista para que edições com tiragens de 200 mil exemplares se esgotassem em apenas três dias.

Sobre a autora: Letícia Nunes de Moraes é formada em Jornalismo pela PUC-SP e em História pela USP.

Sobre a edição: 1ª Edição publicada em 2007 / Preço - R$34 / 264 págs

Fontes: Editora Alameda e Livraria Cultura

A Sangue Frio



Sucesso para sempre

A crueldade humana vista pela ótica de um jornalista excêntrico e perspicaz no fim dos anos 50. O nascimento de um novo modo de escrever. O choque entre dois mundos totalmente distintos através de um crime bárbaro. Os números mais frios e as impressões mais cruas de quem esteve envolvido com a história de quatro assassinatos que mexeram com a história de um povo habituado a viver em paz.

Isto é A Sangue Frio, de Truman Capote. Obra que marcou época e tornou-se sinônimo de jornalismo literário. Publicado em 1965, o livro conta a história de Herbert, Bonnie, Kenyon e Nancy Clutter, – família que vivia em Holcomb, Kansas, Estados Unidos – e seus assassinos, Perry Smith e Dick Hikcock.

Muito mais que resultado de entrevistas e pesquisas, o romance de não-ficção criado por Capote é fruto de um envolvimento pessoal do autor com os (ainda) sobreviventes da história; os assassinos.

Determinado a conhecer todos os eventos que resultaram na fatídica noite de 15 de novembro de 1959 (data da chacina), Capote conquistou a amizade dos dois criminosos e os tratou de forma humana, sem por isso esconder nenhum detalhe do crime brutal e todos os seus pormenores. O modo como cada vítima foi abordada e morta e como os corpos foram encontrados; tudo está descrito no livro. Um verdadeiro soco no estômago para aqueles leitores que nunca viram de perto tantas faces de um crime.

As reações de uma comunidade pacífica como a da pequena cidade de Holcomb, os obstáculos da investigação policial, os problemas do sistema judicial americano e a trajetória de vida de cada assassino são descritas com toda espécie de detalhes. Capote explora todo seu potencial jornalístico ao descrever como repórter os fatos mais sombrios e aterradores. Ao mesmo tempo, mexe com emoções profundas e temores comuns a grande parte dos seres humanos.

Assim, após a execução dos assassinos o autor enfim encerra sua obra. Sucesso instantâneo na revista The New Yorker, aclamado por todos e transformado em filme no ano de 2005, sob a direção de Bennett Miller. Uma obra para ser vista, sim, mas principalmente para ser lida.

Vanessa Reis

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Uma noite para ser eternamente lembrada

Luzes. Multidão agitada. Cambistas gritam e ambulantes vendem cachorro quente e churrasquinho enquanto o público entra no Pepsi on Stage. Estamos em quatro de abril de dois mil e oito, em frente ao aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre.

O carro fica no estacionamento e seguimos para a entrada. Há muita gente. Mas a entrada é tranqüila, não há nem dez pessoas na fila. As luzes chamam a atenção de quem está indo ao local pela primeira vez.

Somos um pequeno grupo de cinco amigos. Enquanto os meninos avisam sobre a péssima acústica do Pepsi (On Stage), as meninas estão mais empolgadas com a magia do show, a idéia de ver no palco aqueles que são alguns dos principais autores da trilha sonora de nossas vidas.

Telões e monitores por todos os lados iluminam o lugar. Clipes, cores e sons preenchem o espaço, que também se enche de fãs. São adolescentes, jovens e também uma notável parcela de público já não tão jovem. Gente que viu os Titãs e Os Paralamas do Sucesso nascerem num Brasil lá do começo dos anos 80.

O show começa com atraso. Tudo bem. Era esperado, e foi melhor assim, pois permitiu um lanche ali mesmo, no bar da casa de shows. A fome era grande e o cheeseburger quentinho veio a calhar. Nada de filas eternas, com bom atendimento e ótima companhia. Perfeito. Agora vamos correr, que os caras estão pegando os instrumentos.

No palco toca
Diversão. Caramba, são muitos músicos! É muita gente pra dividir um espaço que também é ocupado pelos instrumentos. E duas baterias que provocam muitos erros e confusões. Mas tudo bem! As meninas concordam que as luzes estão mal projetadas e muitas vezes ofuscam, mas o show é bonito. Agrada ver Herbert Vianna, Sérgio Britto e Paulo Miklos cantando, todos juntos.

“Por que você não olha pra mim? Ô, ô... Me diz o que e que eu tenho de mal, ô, ô...”

Ah, como eu queria os óculos escuros do Branco Mello! Luzes brancas e amarelas viram a toda hora em direção ao público; não há como não reparar. Mas a animação é grande, as músicas são as mais clássicas e tem uma galera dançando em volta. São mais que duas bandas. É um grande grupo de amigos que se reuniu pra tocar e comemorar 25 anos de sucesso. Com eles, convidados mais que especiais: Andreas Kisser (guitarrista do Sepultura), Arnaldo Antunes (ex-Titã) e Fito Paez (cantor e compositor argentino). No final, todos juntos, cantando, tocando e lotando o palco.

“Nas favelas, no Senado, sujeira pra todo lado... Ninguém respeita a constituição...”

E termina o show. Com uma música da Legião Urbana, não planejada e muito provavelmente não ensaiada. Mas que agradou a muitos. Com tranqüilidade o Pepsi vai ficando vazio. E a gente vai embora. Cansados, felizes, com zunidos nos ouvidos. O saldo final é positivo. Foi um grande show!


‘Bora’ pra casa?

Vanessa Reis

sexta-feira, 28 de março de 2008

História que surge das cinzas

Todo jornalista, para fazer um bom trabalho precisa saber contar histórias. E John Hersey fez isso com maestria ao escrever Hiroshima, uma grande reportagem que inaugurou o gênero Jornalismo literário e ganhou forma de livro. Hersey usa de todo profissionalismo e sensibilidade para contar, através do relato de seis sobreviventes da bomba atômica, como a explosão afetou a vida daquela cidade e como foram capazes de reconstruí-la.

Publicada no Brasil em 2002 pela Companhia das Letras e traduzida por Hildegard Feist, a obra, considerada pelos críticos a melhor reportagem do século XX, emociona sem escandalizar, mergulha na vida das personagens sem ser sensacionalista.

Convidado por Harold Ross e William Shaw, fundador e editor da revista The New Yorker, John Hersey esteve no Japão de 25 de maio a 12 de junho de 1946, quando o bombardeio estava próximo de completar um ano. Durante esses 19 dias ele fez muito mais do que colher dados. Conheceu histórias e pessoas incríveis, capazes de ensinar, apenas com as próprias experiências, como o uso de uma arma de guerra pode mudar tudo, para sempre.

E dentre os 100 mil sobreviventes da tragédia os escolhidos pelo autor para contar essa comovente história foram Kiyoshi Tanimoto, pastor da Igreja Metodista de Hiroshima; Hatsuyo Nakamura, viúva de um alfaiate que morrera naquela mesma guerra; Masakazu Fujii, médico e proprietário de uma clínica particular; Wilhelm Kleinsorge, padre jesuíta alemão; Terufumi Sasaki, jovem médico que trabalhava no hospital da Cruz Vermelha e Toshiko Sasaki, funcionária da Fundição de Estanho do Leste da Ásia.

O livro começa com a detalhada descrição do que cada uma dessas seis pessoas estava fazendo quando a bomba explodiu, na manhã de seis de agosto de 1945. Segue num ritmo paralisante e sem que o leitor queira tirar os olhos do livro, fala dos instantes seguintes, da dor, do espanto diante de algo jamais visto e a princípio sem explicação sobre como foi possível acontecer.

Hersey, com todo seu detalhismo nos envolve de tal forma que acabamos por sofrer junto, torcendo pelos personagens, que muito mais do que protagonistas da obra são seres humanos, testemunhas de um dos episódios mais tristes da História da humanidade. O autor também explica como se deu a reconstrução da cidade e das vidas das pessoas. As doenças e os ferimentos que resistiam, mesmo depois de meses do bombardeio. A ocupação americana e toda a resignação do povo japonês ao aceitar os fatos e seguir em frente, sem demonstrar revolta. Tudo cercado da objetividade de um repórter que aos 32 anos já havia conquistado o Prêmio Pulitzer de ficção ao lançar o livro A Bell for Adano, em 1945. Sem deixar de lado a magia envolvente da literatura, que nos transporta direto ao palco dos acontecimentos, com sutileza e encanto.

E em 1985 John Hersey volta a Hiroshima para acrescentar um novo capítulo ao livro, em que conta o que aconteceu àqueles seis sobreviventes, 40 anos depois do lançamento da bomba atômica.

Sem dúvida alguma o título de melhor reportagem do século XX é justo. Pois Hiroshima é muito mais que um texto bem escrito. Envolve, informa, emociona e nos faz pensar no quanto o ser humano se julga poderoso por conseguir criar armas de destruição. No entanto, esquece que tem muito mais poder aquele que é capaz de se reerguer das cinzas e tornar o mundo a sua volta ainda mais belo.

Vanessa Reis

Bem-vindos ao Literatura da Realidade

Este blog está sendo produzido na disciplina de Jornalismo Online I e vai tratar de Jornalismo Literário.
Aqui você poderá encontrar resenhas de obras que seguem esta temática, bem como textos sobre o assunto e reportagens que seguem essa linha.
Espero que gostem! Boa leitura.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Teste

Testando novo layout...
Alô, alô...

Era uma vez, numa aula de Jornalismo Online I... A turma já sabia que cada um ia produzir um blog, mas o pessoal sempre deixa pra última hora, né? Aquela promessa de "durante as férias eu escolho o assunto e o layout. Quando as aulas começarem, vai estar tudo adiantado", ficou esquecida, abandonada. Jogada às traças mesmo, diante do enstusiasmo de tantas emoções nessas inesquecíveis férias de verão...

Agora, 'bora' trabalhar!