sexta-feira, 18 de abril de 2008

Dica de Leitura

Obra: Leituras da Revista Realidade / Autora: Letícia Nunes de Moraes

Sobre o livro: Criada em abril de 1966, a revista Realidade marcou época no jornalismo brasileiro. Inspirada no conceito norte-americano de new journalism e com reportagens ousadas em sua forma e conteúdo, obteve sucesso imediato, mesmo em um país sem grande tradição de leitura como o Brasil. Enfrentou tabus, cobriu guerras e abordou questões sociais até então pouco discutidas por outros veículos de mídia e pela própria sociedade. Ao mesmo tempo impulsionada e influenciada pelas manifestações políticas e de contracultura do fim da década de 60, a revista também sofreu com a repressão da ditadura militar que na época se consolidava no Brasil.

Em Leituras da revista Realidade, Letícia Nunes de Moraes se debruça sobre o relacionamento da publicação com os leitores, a forma como estes reagiam às matérias veiculadas - em sua maioria de grande impacto, e não raro, escandalizando certos setores da sociedade. A participação do leitor é evidenciada pelas mais de 700 cartas analisadas pela autora, todas elas datadas da primeira (e mais importante) fase da revista, que vai de seu surgimento em abril de 1966 até a instituição do AI-5 pela ditadura militar em dezembro de 1968.

Haveria espaço hoje para periódicos nos moldes da Realidade? Quais são os rumos do jornalismo hoje tal como ele se encontra? Estas e outras são apenas algumas das diversas reflexões que a obra desperta no leitor, além de ajudar entender como e o quê tinha essa revista para que edições com tiragens de 200 mil exemplares se esgotassem em apenas três dias.

Sobre a autora: Letícia Nunes de Moraes é formada em Jornalismo pela PUC-SP e em História pela USP.

Sobre a edição: 1ª Edição publicada em 2007 / Preço - R$34 / 264 págs

Fontes: Editora Alameda e Livraria Cultura

A Sangue Frio



Sucesso para sempre

A crueldade humana vista pela ótica de um jornalista excêntrico e perspicaz no fim dos anos 50. O nascimento de um novo modo de escrever. O choque entre dois mundos totalmente distintos através de um crime bárbaro. Os números mais frios e as impressões mais cruas de quem esteve envolvido com a história de quatro assassinatos que mexeram com a história de um povo habituado a viver em paz.

Isto é A Sangue Frio, de Truman Capote. Obra que marcou época e tornou-se sinônimo de jornalismo literário. Publicado em 1965, o livro conta a história de Herbert, Bonnie, Kenyon e Nancy Clutter, – família que vivia em Holcomb, Kansas, Estados Unidos – e seus assassinos, Perry Smith e Dick Hikcock.

Muito mais que resultado de entrevistas e pesquisas, o romance de não-ficção criado por Capote é fruto de um envolvimento pessoal do autor com os (ainda) sobreviventes da história; os assassinos.

Determinado a conhecer todos os eventos que resultaram na fatídica noite de 15 de novembro de 1959 (data da chacina), Capote conquistou a amizade dos dois criminosos e os tratou de forma humana, sem por isso esconder nenhum detalhe do crime brutal e todos os seus pormenores. O modo como cada vítima foi abordada e morta e como os corpos foram encontrados; tudo está descrito no livro. Um verdadeiro soco no estômago para aqueles leitores que nunca viram de perto tantas faces de um crime.

As reações de uma comunidade pacífica como a da pequena cidade de Holcomb, os obstáculos da investigação policial, os problemas do sistema judicial americano e a trajetória de vida de cada assassino são descritas com toda espécie de detalhes. Capote explora todo seu potencial jornalístico ao descrever como repórter os fatos mais sombrios e aterradores. Ao mesmo tempo, mexe com emoções profundas e temores comuns a grande parte dos seres humanos.

Assim, após a execução dos assassinos o autor enfim encerra sua obra. Sucesso instantâneo na revista The New Yorker, aclamado por todos e transformado em filme no ano de 2005, sob a direção de Bennett Miller. Uma obra para ser vista, sim, mas principalmente para ser lida.

Vanessa Reis

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Uma noite para ser eternamente lembrada

Luzes. Multidão agitada. Cambistas gritam e ambulantes vendem cachorro quente e churrasquinho enquanto o público entra no Pepsi on Stage. Estamos em quatro de abril de dois mil e oito, em frente ao aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre.

O carro fica no estacionamento e seguimos para a entrada. Há muita gente. Mas a entrada é tranqüila, não há nem dez pessoas na fila. As luzes chamam a atenção de quem está indo ao local pela primeira vez.

Somos um pequeno grupo de cinco amigos. Enquanto os meninos avisam sobre a péssima acústica do Pepsi (On Stage), as meninas estão mais empolgadas com a magia do show, a idéia de ver no palco aqueles que são alguns dos principais autores da trilha sonora de nossas vidas.

Telões e monitores por todos os lados iluminam o lugar. Clipes, cores e sons preenchem o espaço, que também se enche de fãs. São adolescentes, jovens e também uma notável parcela de público já não tão jovem. Gente que viu os Titãs e Os Paralamas do Sucesso nascerem num Brasil lá do começo dos anos 80.

O show começa com atraso. Tudo bem. Era esperado, e foi melhor assim, pois permitiu um lanche ali mesmo, no bar da casa de shows. A fome era grande e o cheeseburger quentinho veio a calhar. Nada de filas eternas, com bom atendimento e ótima companhia. Perfeito. Agora vamos correr, que os caras estão pegando os instrumentos.

No palco toca
Diversão. Caramba, são muitos músicos! É muita gente pra dividir um espaço que também é ocupado pelos instrumentos. E duas baterias que provocam muitos erros e confusões. Mas tudo bem! As meninas concordam que as luzes estão mal projetadas e muitas vezes ofuscam, mas o show é bonito. Agrada ver Herbert Vianna, Sérgio Britto e Paulo Miklos cantando, todos juntos.

“Por que você não olha pra mim? Ô, ô... Me diz o que e que eu tenho de mal, ô, ô...”

Ah, como eu queria os óculos escuros do Branco Mello! Luzes brancas e amarelas viram a toda hora em direção ao público; não há como não reparar. Mas a animação é grande, as músicas são as mais clássicas e tem uma galera dançando em volta. São mais que duas bandas. É um grande grupo de amigos que se reuniu pra tocar e comemorar 25 anos de sucesso. Com eles, convidados mais que especiais: Andreas Kisser (guitarrista do Sepultura), Arnaldo Antunes (ex-Titã) e Fito Paez (cantor e compositor argentino). No final, todos juntos, cantando, tocando e lotando o palco.

“Nas favelas, no Senado, sujeira pra todo lado... Ninguém respeita a constituição...”

E termina o show. Com uma música da Legião Urbana, não planejada e muito provavelmente não ensaiada. Mas que agradou a muitos. Com tranqüilidade o Pepsi vai ficando vazio. E a gente vai embora. Cansados, felizes, com zunidos nos ouvidos. O saldo final é positivo. Foi um grande show!


‘Bora’ pra casa?

Vanessa Reis