sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Paragrafando um capítulo

Escrever um TCC é complicado, mas de vez em quando nascem parágrafos fofos. Ainda podem ser editados, mas... Ahh, ficaram bonitinhos.
:)


Para recuperar um pouco deste referente histórico perdido na ânsia pelas notícias existe a reportagem. Menos concisa e mais envolvente, uma reportagem requer mais tempo e concentração para a leitura. Portanto, um jornalista que as escreve deve ter cuidados especiais com apuração e linguagem. Noblat diferencia os dois formatos dizendo que a “notícia é o relato mais curto de um fato. Reportagem é o relato mais circunstanciado” (NOBLAT, 2003). Ao lado dele está Nilson Lage, que distingue notícia de informação jornalística (categoria que inclui a reportagem) afirmando que “a notícia é mais breve, sumária, pouco durável, presa à emergência do evento que a gerou. A informação é mais extensa, mais completa, mais rica na trama de relações entre os universos de dados” (LAGE, 2004).

Tramas mais esclarecidas e contextos amplamente dimensionados ajudam os leitores a entender o que se passa na sociedade. E não há cidadania de verdade quando a população é ludibriada no direito à informação. Pena (2008) relembra os autores Bill Kovach e Tom Rosenstiel, defensores da ideia de que “quanto mais democrática uma sociedade, maior é a tendência para dispor de mais informações”. O que significa que as notícias não bastam se forem utilizadas apenas como ferramenta para distrair a atenção das verdadeiras conexões políticas, econômicas e culturais que permitem formar conhecimento e desmitificar as imagens espetacularizadas construídas pela mídia de massa.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O início do primeiro capítulo

Estou começando o Trabalho de Conclusão de Curso. O tão aguardado, temido, e odiado por tantos, TCC. Como já previa, vou aproveitar o espaço do blog para organização de alguns materiais. Hoje escrevi cinco páginas. Posto três delas, ainda antes da minha orientadora avaliar.

O real não está na saída nem na chegada:
ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.
Guimarães Rosa

Todo jornalista, para fazer um bom trabalho precisa saber contar histórias. No entanto, apesar de trabalhar com histórias não-ficcionais, jornalistas precisam da linguagem para representar o real. De acordo com a professora de Língua Portuguesa da Faculdade Cásper Líbero, Nanami Sato, “a ideia de representação carrega a de substituição, de reprodução, de figuração”. Ela aborda temas como a construção da objetividade jornalística através de um discurso que encarna a totalidade do real.

A relação entre representação e mundo representado mostra-se bastante complicada, pois uma coisa ou um conjunto de coisas corresponde a relações que essas coisas encarnam, contendo-as ou velando-as. Em vez de revelar o real, pode-se dizer que a representação, ao dar-lhe suporte, substitui a totalidade e a encarna, em vez de remeter a ela.

Mesmo que se postule que a representação revela alguma coisa do real, é preciso ter em mente as condições em que ela emerge. Basta lembrar que o autor já carrega em si certos implícitos de representação; o resultado, a representação, constitui, portanto, uma criação destinada a um ou mais receptores.

A vocação da notícia é representar o referente, o que torna a notícia, em princípio, verificável. Ao exigir-se do jornalista o uso da terceira pessoa que garantiria formalmente a impessoalidade do discurso, tem-se como resultado um discurso esvaziado, que acaba por ocultar o processo social que possibilitou a notícia.

O “apagamento” das marcas do sujeito tem como resultado um efeito de objetividade, pois o peso dado ao referente externo cria a ilusão de sua autonomia, de uma existência independente da linguagem. O efeito de objetividade “faz confundir a história enquanto processo com o acontecimento enquanto espetáculo” (Baccega: 1991: 126). (SATO In CASTRO, Gustavo de; GALENO, Alex, 2005, p. 30 e 31).

Sato considera que a representação da realidade é construída através de recortes do processo histórico que são apresentados como se constituíssem a totalidade.

A seleção dos momentos substitui o real por um real representado e traduz valoração do que se considera como momentos significativos. A preocupação com coleta de dados evidentes preenche o texto com pormenores descritivos, causando a impressão de que o real concreto basta a si próprio. A esse fenômeno Barthes (1970:136) chamou ilusão referencial. Jules Gritti (In: Barthes, R. et alli: 1973) considera a narrativa de imprensa uma espécie de jogo metanarrativo, o jogo das relações entre o narrador e as fontes de informação (SATO In CASTRO, Gustavo de; GALENO, Alex, 2005, p. 32).

No Brasil e no mundo, inúmeros jornalistas buscam no jornalismo literário uma forma de narrativa que, por ser menos pretensiosa no que tange ao efeito de objetividade e conter mais informações sobre o processo que transforma histórias em produtos midiáticos, soa mais honesta. A Academia Brasileira de Jornalismo Literário utiliza o conceito de jornalismo literário elaborado pelo jornalista, professor e pesquisador Edvaldo Pereira Lima:

Modalidade de prática da reportagem de profundidade e do ensaio jornalístico utilizando recursos de observação e redação originários da (ou inspirados pela) literatura. Traços básicos: imersão do repórter na realidade, voz autoral, estilo, precisão de dados e informações, uso de símbolos (inclusive metáforas), digressão e humanização. Modalidade conhecida também como Jornalismo Narrativo.

Tema amplamente debatido entre estudantes e professores, a relação entre o jornalismo e a literatura há muito tem alimentado pesquisas e análises. O escritor Moacyr Scliar (In Castro e Galeno, 2005, p.14) acredita que há sim, “uma fronteira entre jornalismo e ficção. Mas é uma fronteira permeável, que permite uma útil e amável convivência”. Para o autor que escreve crônicas em jornal e não é jornalista, a literatura tem muito a ensinar sobre o cuidado com a forma e a valorização da imaginação. Desde que, é claro, não haja exageros.

Segundo Francisco Gutiérrez Carbajo, “a relação entre literatura e jornalismo conhece um primeiro momento de esplendor com a aparição das revistas culturais do século XVIII, estreita-se ao longo do século XIX e constitui um dos capítulos fundamentais da cultura do século XX” (Gutiérrez Carbajo apud Medel, 2005, p.16). O catedrático de Literatura e Comunicação Manuel Ángel Vázquez Medel (In Castro e Galeno, 2005, p.16) admite que Jornalismo e Literatura “têm andado sempre de mãos dadas” desde o romanticismo, mas, baseado na obra de Marcel Proust, simplifica que a “literatura se orienta para o importante e a informação jornalística para o urgente” (Op. cit., p.18). Para ilustrar, apresenta a fala do protagonista de No Caminho de Swan, obra de Proust: “O que me parece mal nos jornais é que solicitem todos os dias nossa atenção para coisas insignificantes, enquanto não lemos mais que três ou quatro vezes em toda nossa vida os livros que contêm coisas essenciais”. O próprio Medel defende que “é verdade que nossa época se caracteriza pelo sacrifício das coisas verdadeiramente importantes, em benefício das que reclamam nossa atenção com o engodo da urgência.” (Op. cit.)

Um dos “obejtivos fundamentais de um programa comparatista e multicultural de investigação sobre as relações entre jornalismo e literatura” citados por Medel (Op. cit., p.21) seria a construção de “instrumentos metodológicos (...) e críticos para entender e apreciar o jornalismo como criação de uma natureza distinta àquela do discurso literário, porém com aspectos comuns” (Op. cit., p.22).

Juremir Machado da Silva, que é jornalista, escritor, professor da FAMECOS/PUC-RS e Doutor em Sociologia pela Sorbonne, entende que a distância entre jornalismo e literatura que muitos querem impôr à comunicação social pode trazer problemas. Para ele, “o jornalista que só pensa na precisão do dado, esquece a necessidade de imprecisão da forma” (In Castro e Galeno, 2005, p.50). E completa ainda, dizendo que “O grande problema do jornalismo contemporâneo vem do seu ideal de expressão (conteúdo) máxima com expressividade (forma) mínima. Em outras palavras, o jornalismo quer dizer muito com pouca literatura” (Op. cit., p. 51).

Sobre a dependência da linguagem ficcional, a Professora Nanami Sato defende que a própria prática jornalística impõe a relação com a linguagem ficcional.

Apesar da vocação para o “real”, o relato jornalístico sempre tem contornos ficcionais: ao causar a impressão de que o acontecimento está se desenvolvendo no momento da leitura, valoriza-se o instante em que se vive, criando a aparência do acontecer em curso, isto é, uma ficção. Além disso, o jornalismo, produto industrial, precisa de esquemas para captação de notícias, dos quais a fonte é uma das principais. As fontes podem constituir posições estereotipadas; frequentemente, com a consulta a especialistas, a ação quase não aparece, apenas a linguagem como reforço, como redundância. (SATO In CASTRO, Gustavo de; GALENO, Alex, 2005, p. 31 e 32).

Mestre em Literatura pela Universidade de Brasília e Doutor em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rildo Cosson (In Castro e Galeno, 2005, p. 59) afirma que apesar do jornalismo ter sido “construído como uma escrita da objetividade (...) em oposição à subjetividade artística da literatura”, a própria história do jornalismo mostra que, tanto no Brasil como em outros países, “nasceu ligado à literatura e à política”, demonstrando “uma longa convivência entre os dois discursos, como comprovam não apenas as seções de variedades e os folhetins, de onde surgiu a nossa crônica, como também o exemplo maior de Os Sertões, de Euclides da Cunha”.

Continua... pelos próximos meses.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

"Você deve olhar para o que está fora das atenções"

Entrevista publicada originalmente no blog Jornalismo de Revista, em 19 de abril. E também, no site da Academia Brasileira de Jornalismo Literário.


Anne Hull é repórter especial do jornal “The Washington Post”.

Na entrevista a seguir, concedida ao jornalista e professor dinamarquês Ole Soennichsen, ela diz que, embora repórteres devam fazer perguntas, é importante também ser silencioso e discreto: “Isso exige muita disciplina, pois a maioria dos repórteres quer controlar a situação fazendo perguntas e dirigindo a conversa”.

O que torna a reportagem narrativa diferente da reportagem do jornalismo convencional?

De certa forma, as habilidades são as mesmas. A diferença está, na verdade, na escrita. Não importa o tipo de matéria que se procure fazer. Alguns procedimentos — observação, ouvido para o diálogo, um estado de alerta para sentir as coisas, fazer as perguntas certas — deveriam ser universais. Há algumas diferenças, porém.

Fazer reportagens narrativas envolve muito mais silêncio da parte do repórter. Não dá para ficar interrompendo o fluxo dos acontecimentos com perguntas. Você deve assistir ao desenrolar da ação, sem intervir. Você deve estar dentro e, ao mesmo tempo, fora.

Você disse uma vez que uma das coisas mais subestimadas ao se fazer reportagem é a observação - a arte de observar. Por quê?

Você precisa esculpir seu trabalho e não ser percebido. Nosso impulso natural é sempre fazer perguntas, mas isso às vezes é errado: isso o torna o centro das atenções, em lugar do seu personagem. Na quietude vem a humildade. Isso honra a pessoa que você está tentando observar.

As perguntas também são uma forma de controle. É uma maneira de ser o contra-regra. É claro que jornalistas devem fazer perguntas. Observar, no entanto, significa segurar suas curiosidades e deixar o assunto simplesmente viver. Silêncio e liberdade são essenciais.

Assim como o melhor repórter fotográfico, você deve olhar para o que está fora das atenções. Quando isso acontece, você enxerga, ouve e sente o cheiro de elementos que pergunta alguma poderia conseguir.

Como aprendemos a ser “uma mosca na parede” e não uma parte explícita da matéria?
Identificar suas fraquezas ajuda muito. Se descrever roupas não é seu ponto forte, escreva no seu bloco de notas “roupas”. Isso o lembrará de anotar o que alguém está vestindo.

Você pode lembrar a si mesmo de prestar atenção em tudo quanto é tipo de coisa. Quase sempre é difícil não expor sua opinião, ou não reformular a ação. Se você está num ponto de ônibus com seu personagem e o ônibus chega, mas o personagem não se levanta para pegá-lo, é difícil não dizer “Ei, este não é o seu ônibus?”. Só que você não pode. Você precisa ver o seu personagem perder o ônibus.

Por favor, vamos falar mais sobre observar — estar simplesmente quieto, assistindo a algo. Como você desenvolve essa habilidade e como explicar às pessoas que você as está acompanhando? Quanto tempo leva para conquistar uma aproximação suficiente para que elas aceitem isso?

Não existe técnica para você ser silencioso. Isso exige é disciplina, pois a maioria dos repórteres quer controlar a situação fazendo perguntas e dirigindo a conversa. Eles em geral têm pouco tempo para cumprir suas pautas. Mas algumas matérias exigem paciência e observação.

Veja o trabalho do repórter fotográfico. Ele se torna invisível, movimentando-se pelo ambiente, em volta de seu assunto, subindo, descendo, afastando-se. Um repórter pode fazer o mesmo. Assistir ao desenrolar de toda a ação. Lembre-se de ficar em silêncio. Seja paciente. Vá ficando por lá.

Para explicar isso, apenas diga no começo do processo da reportagem que, como repórter, você vai fazer um monte de perguntas. Você vai entrevistar várias pessoas, mas haverá momentos em que você vai apenas querer observar e entender.

De início, as pessoas estão inclinadas a agir performaticamente, ou elas ficam tão preocupadas que apenas ficam mais caladas. Mas logo que se sentem mais confortáveis, tendem a relaxar e voltam a se comportar normalmente.

Algumas pessoas agem naturalmente e logo já falam de seu mundo, mesmo com a presença de um espectador. Outras não se sentem tão confortáveis e exigem mais adaptação à presença do repórter.

Suas reportagens são feitas com pessoas comuns e não com fontes oficiais. O que isso representa? Você age de maneira diferente?

Pessoas comuns são geralmente as mais sinceras, mas também as mais vulneráveis. Como repórteres, nós temos a responsabilidade de não deixá-las esquecer que estamos observando, escutando e tomando notas.

Eles não podem confundir essa companhia com uma conversa de amigos. Essas relações podem ser calorosas e leves, mas estamos lá por uma razão, geralmente: para conseguirmos fazer uma matéria e fazê-la corretamente. Eu diria que essa é a maior diferença entre entrevistar pessoas comuns e as fontes oficiais.


Soube que você quase nunca usa um gravador. Por quê?

Transcrever gravações consome muito tempo. Prefiro fazer anotações, a não ser que eu esteja numa coletiva e preciso saber cada uma das palavras. Eu também uso o gravador quando a entrevista é sobre algo extremamente técnico ou não familiar para mim, para que eu possa anotar tudo e mais tarde escutar o gravador para compreender melhor.

Como você se lembra dos detalhes e das cenas longas?
Eu anoto tudo. Tudo. Diálogos, a atmosfera, as horas, o clima etc. Tudo.

Você anota tudo mesmo ou faz uma seleção quando já está em campo?

Anoto a maioria das coisas, incluindo impressões ou como algo me toca. Naquele momento, coisas do tipo “aqui eu ri” ou “isso me fez chorar”. Talvez seja apenas uma reação nervosa do meu próprio íntimo. Mas é algo que eu faço.

Como você evita que a relação com as fontes se torne muito pessoal, já que você quer que elas se aproximem de você? Que tipo de acordo se deve fazer com as fontes para evitar problemas éticos? Em uma cena crítica, quanto tempo um repórter deve esperar para começar a ajudar?

Nenhum jornalista deveria, em função de uma matéria, ficar esperando e apenas assistindo a um perigo ou um sofrimento aumentarem e espalharem-se. Ao mesmo tempo, estamos ali para documentar a realidade. O que faz uma correspondente na África, quando anda num campo de refugiados famintos, com as mãos estendidas em sua direção? O que você faz com sua garrafa de água no Sudão, ao ficar rodeado por pessoas famintas e sedentas, a centímetros de você?

Estas são perguntas difíceis, mas os cenários são extremamente reais. Eu escrevi sobre uma família no Kentucky que estava com uma filha com febre alta. Eles não tinham carro para levá-la ao médico. Meu carro alugado estava estacionado perto dali.

Mas não ofereci para levá-los rapidamente. Precisava ver como eles resolveriam aquele dilema, pois transporte e apoio médico fazem parte de uma longa história da pobreza. Mas quero ser clara: se a garota se encontrasse em sérios riscos, eu a teria levado ao hospital, sem dúvida alguma. Por sorte, o pai descobriu uma solução antes de chegarmos às providências mais severas.

Qual é a sua opinião sobre empregar diálogos que você não tenha ouvido pessoalmente?

Parafrasear geralmente é a melhor opção, e depois esclarecer de onde veio a informação. Isso pode ser resolvido ao dizer “lembrado vagamente” ou “o modo em que foi mais ou menos lembrado”. O diálogo direto é sempre o ideal, mas se você está reconstruindo, o uso das sentenças sugere que você ouviu cada uma das palavras e está transmitindo-as exatamente ao leitor. Se você usa citações, as palavras contidas devem ser exatas. Você tem certeza que elas são?


* Entrevista concedida a Ole Soennichsen, jornalista e professor de Jornalismo Literário/Jornalismo Narrativo na Dinamarca. Versão reduzida, editada e preparada por Edvaldo Pereira Lima. Tradução de Fred Linardi.

domingo, 15 de junho de 2008

John Hersey e a arte de contar boas histórias


Como o dry martini e a voz de Frank Sinatra, o jornalismo literário é uma das grandes instituições americanas que fizeram o século XX. Ele tem tanto prestígio nas estantes americanas que chegou a criar uma categoria própria, também chamada literatura de não-ficção, ensaio ou, como fizeram seus barulhentos autores nos anos 60, "novo jornalismo".

Embora a imprensa tenha sido sempre uma companheira de viagem da literatura, essa aproximação começou a ter regras e repertórios autônomos com o final da Segunda Guerra Mundial.

Considerado um terceiro gênero ou um gênero híbrido, o jornalismo literário passou a combinar o exercício intensivo de práticas jornalísticas de entrevistas e apuração de fatos com técnicas e estruturas das narrativas de ficção.

Um dos procedimentos mais importantes para os jornalistas literários é a "imersão no objeto ou personagem", o processo de mergulhar profundamente no tema sobre o qual se vai escrever.

O jornalismo literário ganhou um amplo público de leitores por meio de
publicações como The New Yorker (até hoje o seu principal templo), Esquire,
The New Republic e Rolling Stone, entre outras, e pelo texto de autores como
Norman Mailer, Truman Capote, Ernest Hemingway, Tom Wolfe, Gay Talese,
Joseph Mitchell, Lilian Ross e E. B. White, para citar apenas alguns nomes.

Hiroshima, de John Hersey, é considerado um dos marcos iniciais do jornalismo literário. Com a sua publicação, tirando um atraso de mais de cinco décadas, a Companhia das Letras, com apoio cultural do site de notícias Último Segundo, inicia uma série que traz ao leitor brasileiro outros clássicos do gênero, entre eles A sangue frio, de Truman Capote; O segredo de Joe Gould, de Joseph Mitchell; Música para camaleões, de Truman Capote; e Olhos na multidão, de Gay Talese.

O jornalismo literário retoma a idéia de que a "arte de contar boas histórias" é parte essencial do jornalismo. No momento em que a imprensa, por força das mudanças acentuadas da vida contemporânea, encontra-se em fase de procura de novos caminhos, uma volta às grandes reportagens do jornalismo literário poderá ser útil para se desenhar alguns novos modelos, principalmente para aqueles que acreditam que o futuro dos jornais e das revistas está na diferenciação pela qualidade (não só da informação e da análise, mas também do texto).

Quando o século XX estava para terminar e o mundo se dedicava a balanços do que ocorreu de mais importante naqueles cem anos, uma unanimidade ocupou o topo da lista de melhores reportagens: Hiroshima. Produzida um ano depois do lançamento da primeira bomba atômica, a reportagem conta em 31.347 palavras o que aconteceu com seis pessoas que sobreviveram à explosão que matou 100 mil, feriu seriamente o corpo de mais 100 mil e machucou a alma da
humanidade.

Nenhuma outra reportagem na história do jornalismo teve a repercussão de Hiroshima. Ao comentar sua publicação, The New York Times afirmou: "Quando esse artigo de revista aparecer em livro, os críticos dirão que ele é um clássico. Mas ele é muito mais do que isso".

Aos 32 anos, em 1946 John Hersey já era um repórter internacional consagrado quando os editores da The New Yorker o deslocaram da China ao Japão para produzir a reportagem que marcaria a passagem do primeiro aniversário da bomba.

Ele ficou no país vinte dias e levou mais seis semanas para escrever o texto. Ao narrar os efeitos da bomba no cotidiano de cidadãos comuns de Hiroshima, Hersey trouxe o impacto da explosão para o dia-a-dia do americano, provocando uma reflexão da América sobre a sua própria conduta de guerra.

O impacto do texto, simples e isento de emocionalismo, foi tanto que Harold Ross, fundador, e William Shawn, editor, decidiram, pela única vez na história, dedicar um número inteiro da The New Yorker para a reportagem de John Hersey.

Fonte: Jornal Último Segundo - Especial Hiroshima

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Os bons tempos da grande reportagem


O jornalista Paulo Francis comentou certa vez, durante uma entrevista, que o jornalismo brasileiro era feito de altíssimos e baixíssimos. E um desses apogeus foi certamente a criação da revista Realidade, em 1966.

Por uma década (a experiência se encerrou em 1976), o leitor pôde usufruir o melhor jornalismo que se fazia aqui na época. Realidade explorou à exaustão o que se convencionou chamar de grande reportagem, gênero que teve em repórteres como Joel Silveira um de seus precursores no Brasil.

Realidade veio a lume numa década de acontecimentos extremos. Lá fora ocorriam conflitos históricos como a Guerra do Vietnã, a rebeldia dos estudantes em Paris, a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, a revolução do flower power etc. No Brasil, tinham início os Anos de Chumbo, com o cerceamento das liberdades civis e todas as conseqüências que adviriam para o país nas décadas seguintes. Nesse contexto explosivo a revista surgiu, vicejou e revolucionou.
Agregando um time de jornalistas de primeira linha, Realidade trouxe ao leitor um Brasil pouco discutido e conhecido. Abordou temas-tabu, a exemplo da reportagem "Sou padre e quero casar", veiculada na edição de setembro de 1966, e colaborou para expor o racismo brasileiro, como na reportagem "Existe preconceito de cor no Brasil", na edição de outubro de 1967. A revista abriu espaço para personagens controvertidos e contestatórios da rígida sociedade de então, como Leila Diniz. Na edição de abril de 1971, a eterna Leila enchia a capa de Realidade com um sorriso matreiro, em foto do não menos lendário David Drew Zingg, colaborador da revista.
Imitada por nascentes publicações, como a Veja, Realidade acabou perdendo a força original e fechou as portas, após ter publicado 120 edições (sempre mensais) e com elas ter abocanhado oito prêmios Esso. Os 17 jornalistas que fizeram a história da revista, tendo à frente nomes como Sérgio de Souza (atual editor da Caros Amigos), Paulo Patarra, Narciso Kalili, Woile Guimarães, Alessandro Porro, Walter Firmo, partiram para outras experiências. Enquanto circulou, Realidade contou com colaboradores como Nelson Rodrigues, Carlos Drummond de Andrade, Sérgio Augusto ou Paulo Francis.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Realidade na íntegra


Noite de sexta-feira, cansaço pegando, a garganta começa a doer... Estou cansada. Feliz por uns motivos, angustiada por alguns tantos, ansiosa por outros. A vontade de escrever é grande. É latente. É modo de sobrevivência. É o que me fez deitar tão tarde, ontem à noite. E dormi pouco. O que só colaborou para que agora eu esteja tão exausta.

Mas dei sorte de encontrar o que eu queria. Uma matéria da Revista Realidade na íntegra. Com fotos! Mazaahh! E ainda descobri um baita grupo de cabeças pensantes, produtores de um site admirável. Vale a pena conferir. Aí vai:

"Em julho de 1968 gloriosa revolução de 1964 se consolidava rumo a efetivação dos direitos inalienáveis de seus generais. Faltava pouco para Costa e Silva baixar o pau de vez e instaurar o AI-5. Nas bancas, chegava a edição número 28 da Revista Realidade, ao custo de NCr$ 1,50 (cruzados novos), estampando uma foto de Luís Travassos na capa, presidente da União Nacional dos Estudantes e pivô de uma disputa política ferrenha dentro da entidade contra outro militante estudantil, José Dirceu. Trazia ainda, entre outras reportagens, o relato do repórter José Hamilton Ribeiro, convalescendo em uma maca de hospital no Vietnam, depois de ter uma de suas pernas arrancada por uma mina enquanto acompanhava um esquadrão estadounidense durante a cobertura da guerra internacional que movimentava aqueles anos. A Revista Realidade chegava ao ápice de seu jornalismo que no próximo ano começaria a declinar, perdendo espaço dentro da Editora Abril para a, na época recém-criada, Revista Veja.

Nessa mesma edição, sob o tema "Polícia", o escritor João Antônio publicava seu segundo texto na revista, depois de passagem, em dois anos de carreira, pelo Jornal do Brasil, pela revista feminina Cláudia e pelo jornal Última Hora. João Antônio não negava querer viver só da literatura, mas na falta, seguia desenvolvendo um jornalismo intimamente ligado a sua ficção, apesar da forte motivação de subsistência. Na reportagem "Quem é o dedo duro?", seguia um dos temas caros a ele, a margilinalidade, sempre com um faro para os "tipos" brasileiros e seu linguajar, costurando tudo com descrições sucintas e uma narrativa precisa.

A reportagem, além de sua temática impressionante (o trabalho informal de um delator trabalhando para a polícia carioca no meio da malandragem), inquieta pela forma onisciente de narrar de João Antônio que não apresenta nem as circuntância em que encontrou o personagem principal, Zé Peteleco. As fotos também esquentam as orelhas. Cheiram a um ensaio ilustrativo, mas aquele dedo do fotógrafo na última imagem só se justificaria em um publicação como Realidade pela pressa ou coisa do tipo.

O grupo TR.E.M.A. disponibiliza fotos e texto desta reportagem na íntegra. Uma faceta intrigante do mundo anônimo que se esgueira diante de nossos olhos narrada por um discreto cagüeta jornalístico."

Para acessar a reportagem na íntegra, com direito a fotos das páginas, clique aqui. Ou na foto, ali em cima.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Um pouquinho de Nomenclatura


Essas informações foram elaboradas pelo professor Edvaldo Pereira Lima (jornalista, autor de diversos livros, pesquisador de Jornalismo Literário e orientador de Teses e Dissertações nessa área. Leciona na USP, onde também fez Mestrado e Doutorado).

Jornalismo Literário

Modalidade de prática da reportagem de profundidade e do ensaio jornalístico utilizando recursos de observação e redação originários da (ou inspirados pela) literatura.Traços básicos: imersão do repórter na realidade, voz autoral, estilo, precisão de dados e informações, uso de símbolos (inclusive metáforas), digressão e humanização. Modalidade conhecida também como Jornalismo Narrativo.

Jornalismo Literário Avançado

Proposta conceitual e metodológica de prática proativa do Jornalismo Literário, delineada por Edvaldo Pereira Lima, incorporando conhecimentos de vanguarda provenientes de vários campos, como a psicologia humanista, a física quântica, a Teoria Gaia, a Teoria Geral de Sistemas. Instrumentos: histórias de vida organizadas em torno da Jornada do Herói e o método Escrita Total.

Literatura da Realidade

Sinônimo de Jornalismo Literário, Literatura de Não-Ficção, Literatura Criativa de Não Ficção. Aplica-se à prática da narrativa sobre temas reais, empregando reportagem - o ato de relatar ocorrências sociais - sob um conceito espaço-temporal e de método mais amplo do que nos periódicos. Praticada por jornalistas, escritores, historiadores e cientistas sociais.

Livro-reportagem

Veículo jornalístico impresso não-periódico contendo matéria produzida em formato de reportagem, grande-reportagem ou ensaio. Caracteriza-se pela autoria e pela liberdade de pauta, captação, texto e edição com que os autores podem trabalhar. Entre os tipos de livros-reportagem mais comuns estão a reportagem biográfica, o livro-reportagem-denúncia e o livro-reportagem-história.

Narrativas de Transformação

Proposta de utilização proativa do Jornalismo Literário, do Jornalismo Literário Avançado e da Literatura da Realidade em processos narrativos visando contribuir para a transformação da sociedade através da ampliação da consciência das pessoas. Conceitos-chave: a co-criação da realidade, a Teoria dos Campos Morfogenéticos e o pensamento produtivo complexo.

Ensaio Pessoal

Gênero emergente na Literatura da Realidade norte-americana. Mescla narrativa e reflexão dissertativa de tom pessoal, não acadêmico. O autor pode ser também personagem. Está envolvido de algum modo no acontecimento que dá origem ao texto e/ou assume posição clara nas reflexões associadas. O assunto abordado e o tema subjacente têm significado pessoal para o autor. Tanto a voz autoral quanto a imersão constituem qualidades desejáveis. Exemplo brasileiro: “Ayrton Senna – Guerreiro de Aquário” (Editora Brasiliense), de Edvaldo Pereira Lima.

Novo Jornalismo

Fase histórica e efervescente de renovação do JL nas décadas de 1960 e 1970 nos Estados Unidos, caracterizada pela introdução de novas técnicas narrativas (fluxo de consciência e ponto de vista autobiográfico), grande exposição pública e popularidade, reivindicação de qualidade equivalente à literatura. Abundantemente praticada em revistas de reportagem especializadas em JL, publicações alternativas, livros-reportagem e até mesmo em veículos da grande imprensa. Registra a ascensão para a fama de grandes mestres da narrativa do real, como Gay Talese e Tom Wolfe, assim como o salto para a produção de não-ficção de nomes consagrados da literatura, como Norman Mailer e Truman Capote.

Jornalismo Gonzo

Vertente peculiar do Novo Jornalismo, criada e popularizada por Hunter S. Thompson através de sua produção para a revista "Rolling Stone" e livros-reportagem. Consiste no envolvimento altamente pessoal e irreverente do repórter nos temas sobre os quais escreve, traduzido em forma narrativa excêntrica. Busca um modo de expressar a realidade muito apoiado na habilidade descritiva do autor. Praticada com destaque no Brasil atual por Arthur Veríssimo, na revista "Trip".

Histórias de Vida

Em jornalismo e Literatura da Realidade, este é um recurso de representação da realidade centrado em vidas de pessoas individuais ou grupos sociais. Surge como trabalho autobiográfico, de suporte de pesquisa ou de principal veio narrativo. Sob guarda-chuva conceitual amplo, num extremo abrange biografias e noutro, perfis. Em ciências sociais, Histórias de Vida é método de pesquisa.

Escrita Total

Método de produção de textos criativos, criado por Edvaldo Pereira Lima, tendo como parâmetro básico a Teoria dos Hemisférios Cerebrais, cuja comprovação garantiu o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia de 1981 ao neurologista Roger Sperry. Utilizado como ferramenta de sensibilização, pauta, observação e texto em Jornalismo Literário Avançado.

Jornada do Herói

Estrutura narrativa organizada numa combinação de estudos mitológicos de Joseph Campbell e da psicologia de Carl Gustav Jung, por Christopher Vogler, consultor de roteiros de cinema nos Estados Unidos. Utilizada por Spielberg e George Lucas. Adaptada para narrativas do real por Edvaldo Pereira Lima. Testada no ensino de jornalismo por Monica Martinez Luduvig em tese de doutorado na ECA/USP.

Fonte: Academia Brasileira de Jornalismo Literário

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Dica de Leitura

Obra: Leituras da Revista Realidade / Autora: Letícia Nunes de Moraes

Sobre o livro: Criada em abril de 1966, a revista Realidade marcou época no jornalismo brasileiro. Inspirada no conceito norte-americano de new journalism e com reportagens ousadas em sua forma e conteúdo, obteve sucesso imediato, mesmo em um país sem grande tradição de leitura como o Brasil. Enfrentou tabus, cobriu guerras e abordou questões sociais até então pouco discutidas por outros veículos de mídia e pela própria sociedade. Ao mesmo tempo impulsionada e influenciada pelas manifestações políticas e de contracultura do fim da década de 60, a revista também sofreu com a repressão da ditadura militar que na época se consolidava no Brasil.

Em Leituras da revista Realidade, Letícia Nunes de Moraes se debruça sobre o relacionamento da publicação com os leitores, a forma como estes reagiam às matérias veiculadas - em sua maioria de grande impacto, e não raro, escandalizando certos setores da sociedade. A participação do leitor é evidenciada pelas mais de 700 cartas analisadas pela autora, todas elas datadas da primeira (e mais importante) fase da revista, que vai de seu surgimento em abril de 1966 até a instituição do AI-5 pela ditadura militar em dezembro de 1968.

Haveria espaço hoje para periódicos nos moldes da Realidade? Quais são os rumos do jornalismo hoje tal como ele se encontra? Estas e outras são apenas algumas das diversas reflexões que a obra desperta no leitor, além de ajudar entender como e o quê tinha essa revista para que edições com tiragens de 200 mil exemplares se esgotassem em apenas três dias.

Sobre a autora: Letícia Nunes de Moraes é formada em Jornalismo pela PUC-SP e em História pela USP.

Sobre a edição: 1ª Edição publicada em 2007 / Preço - R$34 / 264 págs

Fontes: Editora Alameda e Livraria Cultura

A Sangue Frio



Sucesso para sempre

A crueldade humana vista pela ótica de um jornalista excêntrico e perspicaz no fim dos anos 50. O nascimento de um novo modo de escrever. O choque entre dois mundos totalmente distintos através de um crime bárbaro. Os números mais frios e as impressões mais cruas de quem esteve envolvido com a história de quatro assassinatos que mexeram com a história de um povo habituado a viver em paz.

Isto é A Sangue Frio, de Truman Capote. Obra que marcou época e tornou-se sinônimo de jornalismo literário. Publicado em 1965, o livro conta a história de Herbert, Bonnie, Kenyon e Nancy Clutter, – família que vivia em Holcomb, Kansas, Estados Unidos – e seus assassinos, Perry Smith e Dick Hikcock.

Muito mais que resultado de entrevistas e pesquisas, o romance de não-ficção criado por Capote é fruto de um envolvimento pessoal do autor com os (ainda) sobreviventes da história; os assassinos.

Determinado a conhecer todos os eventos que resultaram na fatídica noite de 15 de novembro de 1959 (data da chacina), Capote conquistou a amizade dos dois criminosos e os tratou de forma humana, sem por isso esconder nenhum detalhe do crime brutal e todos os seus pormenores. O modo como cada vítima foi abordada e morta e como os corpos foram encontrados; tudo está descrito no livro. Um verdadeiro soco no estômago para aqueles leitores que nunca viram de perto tantas faces de um crime.

As reações de uma comunidade pacífica como a da pequena cidade de Holcomb, os obstáculos da investigação policial, os problemas do sistema judicial americano e a trajetória de vida de cada assassino são descritas com toda espécie de detalhes. Capote explora todo seu potencial jornalístico ao descrever como repórter os fatos mais sombrios e aterradores. Ao mesmo tempo, mexe com emoções profundas e temores comuns a grande parte dos seres humanos.

Assim, após a execução dos assassinos o autor enfim encerra sua obra. Sucesso instantâneo na revista The New Yorker, aclamado por todos e transformado em filme no ano de 2005, sob a direção de Bennett Miller. Uma obra para ser vista, sim, mas principalmente para ser lida.

Vanessa Reis

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Uma noite para ser eternamente lembrada

Luzes. Multidão agitada. Cambistas gritam e ambulantes vendem cachorro quente e churrasquinho enquanto o público entra no Pepsi on Stage. Estamos em quatro de abril de dois mil e oito, em frente ao aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre.

O carro fica no estacionamento e seguimos para a entrada. Há muita gente. Mas a entrada é tranqüila, não há nem dez pessoas na fila. As luzes chamam a atenção de quem está indo ao local pela primeira vez.

Somos um pequeno grupo de cinco amigos. Enquanto os meninos avisam sobre a péssima acústica do Pepsi (On Stage), as meninas estão mais empolgadas com a magia do show, a idéia de ver no palco aqueles que são alguns dos principais autores da trilha sonora de nossas vidas.

Telões e monitores por todos os lados iluminam o lugar. Clipes, cores e sons preenchem o espaço, que também se enche de fãs. São adolescentes, jovens e também uma notável parcela de público já não tão jovem. Gente que viu os Titãs e Os Paralamas do Sucesso nascerem num Brasil lá do começo dos anos 80.

O show começa com atraso. Tudo bem. Era esperado, e foi melhor assim, pois permitiu um lanche ali mesmo, no bar da casa de shows. A fome era grande e o cheeseburger quentinho veio a calhar. Nada de filas eternas, com bom atendimento e ótima companhia. Perfeito. Agora vamos correr, que os caras estão pegando os instrumentos.

No palco toca
Diversão. Caramba, são muitos músicos! É muita gente pra dividir um espaço que também é ocupado pelos instrumentos. E duas baterias que provocam muitos erros e confusões. Mas tudo bem! As meninas concordam que as luzes estão mal projetadas e muitas vezes ofuscam, mas o show é bonito. Agrada ver Herbert Vianna, Sérgio Britto e Paulo Miklos cantando, todos juntos.

“Por que você não olha pra mim? Ô, ô... Me diz o que e que eu tenho de mal, ô, ô...”

Ah, como eu queria os óculos escuros do Branco Mello! Luzes brancas e amarelas viram a toda hora em direção ao público; não há como não reparar. Mas a animação é grande, as músicas são as mais clássicas e tem uma galera dançando em volta. São mais que duas bandas. É um grande grupo de amigos que se reuniu pra tocar e comemorar 25 anos de sucesso. Com eles, convidados mais que especiais: Andreas Kisser (guitarrista do Sepultura), Arnaldo Antunes (ex-Titã) e Fito Paez (cantor e compositor argentino). No final, todos juntos, cantando, tocando e lotando o palco.

“Nas favelas, no Senado, sujeira pra todo lado... Ninguém respeita a constituição...”

E termina o show. Com uma música da Legião Urbana, não planejada e muito provavelmente não ensaiada. Mas que agradou a muitos. Com tranqüilidade o Pepsi vai ficando vazio. E a gente vai embora. Cansados, felizes, com zunidos nos ouvidos. O saldo final é positivo. Foi um grande show!


‘Bora’ pra casa?

Vanessa Reis